Madre Teresa de Calcutá foi, sem dúvida, uma das figuras mais admiráveis de todos os tempos. A obra social que essa senhora construiu, ao longo do seu sacerdócio, é inimaginável. Madre Teresa era, antes de tudo, uma figura do povo. Do povo pobre, aquele que estava abaixo da linha de pobreza, os esquecidos.
Mas quero falar de um outro assunto polêmico e sempre evitado pela igreja: a crise espiritual vivida por Madre Teresa, que colocou em dúvida, inclusive, a sua fé em Deus. Esse lado pouco conhecido da religiosa foi revelado ao mundo através do livro “
Madre Teresa, Venha, Seja Minha Luz”, de autoria do Padre Brian Kolodiejchuk, ironicamente, o postulador da sua canonização.
O livro, que foi lançado em 2007 (inclusive no Brasil), reúne uma série de cartas que Madre Teresa escreveu para vários de seus conselheiros. Nesses manuscritos ela revelou momentos de angústia e fez vários questionamentos a Deus. Em muitos momentos, em suas conversas com Deus, revelou não perceber nenhuma resposta do céu. Veja esse trecho de uma carta de 1956:"Tão profunda ânsia por Deus - e ... repulsa - vazio - sem fé - sem amor - sem fervor. Almas não atrai - O céu não significa nada - reze por mim para que eu continue sorrindo para Ele apesar de tudo."
O “Ele”, claro, é uma referência a Deus e o “apesar de tudo” reflete a inquietação da religiosa. Em outra carta ,escrita em 1959, Madre Teresa deu um claro sinal do seu agnosticismo: "Se não houver Deus - não pode haver alma - se não houver alma então, Jesus - Você também não é real."
A Igreja Católica, ao longo dos séculos, enfrentou várias crises espirituais iguais a de Madre Teresa. São João da Cruz, mestre em teologia mística, batizou esse momento de crise como “
Noite Escura do Espírito (ou da alma)”. Esse momento é entendido pela Igreja como uma etapa que alguns santos percorrem até a identificação do que é realmente Deus. Muitos críticos classificam essa interpretação como uma forma que a Igreja Católica encontrou de negar a crise de fé de seus religiosos.
Sobre esse “momento de escuridão” vivido por Madre Teresa, O New York Time, em sua edição de 05 de setembro de 2007, publicou o trecho de uma das cartas escritas por ela onde, taxativa, afirmou: “se alguma vez chegarei a ser santa, seguramente o serei da escuridão”.
Todos esses momentos de angústia vividos por Madre Teresa, não mancham, de forma alguma, a magnitude de sua obra social. Pelo contrário, imagine uma pessoa que supostamente fazia o bem por ser temente a Deus, descobrimos agora que, mesmo com sua fé em crise, manteve-se firme no seu propósito de ajudar ao próximo de forma incondicional. Nada mais importa, no meu modo de ver.
Autor: Prof. Ed Cavalcante