Publiquei, no post anterior, o discurso do Barack Obama, na íntegra, e destaquei alguns pontos que achei interessantes. Não faço parte da corrente otimista que se formou a partir da eleição dele, nem acho que ele vai ser pior do que Bush (se é que isso seria possível). Mas, cabem algumas observações. Vi na tv, no dia em que Obama tomou posse, uma reportagem que mostrava no Quênia, parentes dele morando em cabanas feitas de esterco. Percebi, nesse momento, a real distância entre o sonho da mudança e a cruel realidade que teimamos em não enxergar. Não bastassem esses graves problemas que assolam a “periferia” do mundo, tem também a tal da “posição política dos Estados Unidos”. Em linguagem coloquial, podemos dizer que quando você sai pisando em todo mundo cria um ambiente de hostilidade que se voltará contra você a qualquer momento. Eles sentiram isso no fatídico "Onze de Setembro".
A imagem de “Senhor do Mundo” tem que ser mantida a todo custo, essa é a tarefa principal dos presidentes estadunidenses. Não adianta desativar o campo de concentração de Guantanamo e espalhar os torturados para serem vilipendiados em outras tantas masmorras que o Tio Sam tem pelos quatro cantos do mundo.
O sonho dos que acreditam em mudanças começou a se desfazer logo no início do discurso de posse, quando Obama agradeceu a Bush por sua “generosidade e por serviços prestados à nação”. Você diz então: “mas isso é mero protocolo”. Sim, pode até ser, mas quebrar protocolos não seria um ótimo começo para um “salvador da pátria?”.
Os Estados Unidos da América têm uma das sociedades mais racistas do mundo. Entretanto, o racismo por lá é declarado. A eleição de Obama é um ponto positivo na luta contra a intolerância racial e a xenofobia. Não esqueça que ele, além da descendência africana, também vem de uma família muçulmana e tem sobrenome árabe (Hussein). Você, que é brasileiro, pare para pensar um pouco: quantos generais negros você já viu? Quantos escritores negros chegaram à Academia Brasileira de Letras? No fatídico dia do ataque às Torres Gêmeas a grande estrela da cobertura desse episódio, na Rede Globo, foi a ótima jornalista Zileide Silva (que só é lembrada pela gaguejada que deu no Jornal Hoje). Mas tudo não passou de uma coincidência. Ela estava lá quando tudo aconteceu, não foi enviada.
Sei que um negro ocupando o posto de presidente da maior potência do planeta alimenta sonhos de mudanças. Devemos ter esperança, mas sempre com os pés no chão. Termino esse post com uma frase do Brecht que resume tudo que escrevi acima: “Triste do povo que precisa de heróis”.
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