Blog da Escola de Referência e Educação Jovens e Adultos Amaury de Medeiros

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12 de fevereiro de 2010

SERIA MESMO QUERER DEMAIS!

Prof. Edvaldo Cavalcante - O que estará pensando o garoto Alcides onde quer que esteja agora? Atrevo-me a imaginar: “Seria mesmo querer demais, tendo nascido pobre na periferia do Recife (segundo as estatísticas, a cidade mais insalubre para os jovens entre 15 e 25 anos no Brasil), me formar biomédico. Numa cidade como a minha, os garotos pobres da periferia aparecem, costumeiramente, naqueles noticiários do meio-dia, que respingam sangue nos telespectadores.
Devem estar falando de mim por lá agora. Um velho lugar-comum diz que 'felicidade de pobre dura pouco'. Imagine o quanto dura a felicidade do pobre miserável. Dura menos ainda. Estava me sentindo um herói, afinal, peitei a miséria e ignorei as estatísticas. Mas não queria ser mártir. Agora, depois da tragédia, muitos falam que eu deveria ter saído do lugar onde nasci. Sair para onde? Em que lugar do Recife pode-se viver com tranquilidade? Em que bairro eu poderia me sentir feliz e seguro? Bem sei que se lembrarão do meu nome por uns dias, desejarão a morte dos que me mataram por semanas e se esquecerão de mim em breve. Virarei mais um nas estatísticas”
Alcides Nascimento Lins, 22 anos, garoto pobre da periferia do Recife, filho de uma catadora de lixo, aprovado em primeiro lugar entre os estudantes de escolas públicas que prestaram vestibular na UFPE, seria diplomado biomédico no mês de setembro desse ano. Foi brutalmente assassinado, em casa, diante da mãe e de duas irmãs. Era madrugada, Alcides estava estudando quando foi morto. Seria mesmo querer demais!

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