Blog da Escola de Referência e Educação Jovens e Adultos Amaury de Medeiros

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29 de abril de 2010

SECRETARIA DE EDUCAÇÃO DO RECIFE MANDA RECOLHER LIVROS SOBRE EDUCAÇÃO SEXUAL - AUTOR ALEGA PRECONCEITO

Originalmente publicado na Folha Oline

Autora: Adriana chaves - Colaboração para a Livraria da Folha

Para o autor de "Mamãe, como eu nasci?", o sexólogo Marcos Ribeiro, a polêmica criada em torno de seu livro na capital pernambucana é um resquício de uma cultura que ainda trata o sexo como tabu. Ele entende que o episódio, no entanto, é uma boa oportunidade para pais, vereadores e outras pessoas abrirem "uma discussão importante em benefício das crianças e jovens, afinal, o bem delas é o que todos nós desejamos".

Na última terça-feira (27), a Secretaria da Educação de Recife determinou o recolhimento da obra nas escolas da rede municipal de ensino. A decisão, que teve o apoio da Câmara de Vereadores, foi tomada devido a reclamações de pais de alunos, que consideraram a publicação "obscena".

"É natural que num país onde o sexo é visto como algo feio, sujo e pecaminoso, em que as músicas de duplo sentido assolam os quatro cantos e o Carnaval é o único período onde é permitida a vivência do erótico, que a falta de conhecimento traga essa polêmica num livro educativo e que trata a sexualidade de forma natural, com seu conteúdo adequado à faixa etária que se destina", disse Ribeiro à *"Livraria da Folha".

Polêmica vem mais de 20 anos depois

O autor ressalta que "Mamãe, como eu nasci?" foi lançado em outubro de 1988, sem nenhum episódio parecido em seus 22 anos de carreira. De acordo com ele, já foi adaptado para o teatro com apresentações no Brasil, Argentina e África, totalizando mais de 150 apresentações. "Esperou chegar à maioridade para essa polêmica."

"O livro, desde sua primeira edição, e lá se vão mais de 20, tem apresentação do nosso maior educador, Paulo Freire, que coincidentemente é pernambucano e que traduz no seu texto a beleza e seriedade de falar desse assunto", afirmou Ribeiro.

"Os aspectos educativos da publicação foram destacados pelo sexólogo. "A página que trata da descoberta do corpo pela criança, se preocupa com a proteção da criança quando diz: 'Ah! Já ia me esquecendo: você não deve deixar que nenhum adulto ou pessoa mais velha toque nem no pênis para os meninos nem a vulva para as meninas'. Essa é uma forma de prevenção e proteção contra um possível abuso sexual. Essa seriedade e compromisso devemos ter quando discutimos o tema com a criança."

"E na sequencia falamos de higiene, da importância de procurar o médico caso tenha um "machucadinho" e por aí vai", disse o autor. Ele enfatizou ainda que se trata de um livro sério e que todos os especialistas consultados atestaram a qualidade da obra."

Segundo Ribeiro, a secretaria, por meio do recolhimento da obra, atendeu democraticamente atendeu aos pais e, com o trabalho de capacitação e orientação que será realizado, vai inseri-lo na realidade e interesse de cada família em discutir o tema, respeitando aqueles que consideram ser este um direito exclusivo da família. "Lembrando que a adoção do livro é apenas mais uma estratégia de abordagem do programa pedagógico em educação sexual já desenvolvido há anos pela equipe da Secretaria de Educação."

25 de abril de 2010

Especialistas criticam avaliação das redações do ENEM

Originalmente publicado no JC Online em 25.04.2010.
Por: Margarida Azevedo mazevedo@jc.com.br

As críticas sobre as notas das redações do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) não partem apenas de docentes e vestibulandos. O JC entrevistou dois professores que participaram da correção dos testes aplicados pelo Centro de Seleção e de Promoção de Eventos (Cespe), da Universidade de Brasília (UnB). Ambos questionaram o pouco tempo para desempenhar a tarefa, a pressão para que a correção fosse feita rapidamente e, o mais grave, a qualidade do trabalho realizado. Em todo o Brasil, foram 3.600 corretores contratados pelo Cespe para analisar cerca de 2,5 milhões de redações. Os entrevistados preferiam não se identificar. Alegaram que se comprometeram com o Cespe em manter sigilo sobre a tarefa que assumiram. Mas toparam contar como aconteceu o processo. Um deles, inclusive, foi quem procurou o JC depois de ler uma matéria publicada no início de março sobre os atropelos do Enem. Os dois tem nível superior com pós-graduação.

Questionados se houve qualidade na correção, dizem que não. “Recebíamos e-mails que nos coagiam o tempo todo a cumprir os prazos. Isso deixou transparecer que os organizadores não dominavam o processo. Perdi meu descanso de quase 20 dias para ganhar uma quantia irrisória diante da importância e da seriedade com que encaro meu trabalho”, destaca um dos professores que, apesar das crítica, disse que o Enem tem ótimos critérios de correção e que o processo digital foi objetivo e eficiente.

O colega concorda em parte. “Acho que houve qualidade daqueles que corrigiram em média 100 a 800 redações. Mas teve quem passou disso. É humano, ética e cognitivamente impossível avaliar textos, julgar as ideias e observar aspectos gramaticais em tão pouco tempo. Fico imaginando como foi possível para muitos professores de todo o Brasil corrigir mais de 1.500 redações em 15 dias, lembrando que demos pausas no Natal e no Revéillon”, observa.

Segundo um deles, o tema da redação (ética) também trouxe problemas. “Os professores e organizadores misturavam conceitos, anulavam redações arbitrariamente, questionavam se deveriam aceitar a discussão sobre todos os valores morais ou somente a ética, não sabiam direito delinear esses limites, o que considerei patético”, comenta.

“Qualquer pessoa, mesmo sem ser profissional na área da linguagem, percebe a falta de qualidade e honestidade no tocante a essas correções. Os alunos foram mal avaliados. Uns reprovados e outros aprovados sem mérito algum. É antiético e desumano pensar que alunos passam longo tempo de preparação para esses exames na perspectiva de ingressarem em universidades e encontram alguns professores irresponsáveis no caminho”, diz o outro.

CONTROLE - Segundo o Cespe, a seleção dos profissionais que participaram da correção das redações do Enem foi feita, principalmente, a partir do banco de professores cadastrados no centro e que já participam de correções de provas da instituição e do banco do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep). Em média, cada corretor ganhou entre R$ 2 mil e R$ 3 mil, proporcional ao trabalho realizado, durante 30 dias (os professores entrevistados disseram que não, que cada texto corrigido valia R$ 1).

Ainda conforme o Cespe, todos os docentes receberam treinamento sobre o padrão de correção das redações. O processo foi acompanhado em tempo real pela equipe do centro. Quando se detectava um desvio do padrão, o corretor era contatado pelo supervisor, que verificava o que estava havendo. A entidade informou também que o trabalho dos 3.600 corretores foi analisado diariamente segundo vários critérios e que, na avaliação da coordenação, a correção ocorreu com alto grau de qualidade. (M.A.)

19 de abril de 2010

APRENDENDO A APRENDER

Prof. Edvaldo Cavalcante - Antigamente quando frequentávamos a escola (dita tradicional) os professores despejavam conteúdos de forma sistemática executando o que Paulo Freire, sabiamente, chamava de “educação bancária” em que o aluno era um mero depositário de conhecimentos. Ao questionar essa forma inglória de se lecionar, numa dessas rodas de amigos, alguém repetiu aquele adágio presente em muitas palestras de auto-ajuda: “não dê o peixe, ensine a pescar”. Verdade seja dita, meu desencanto com o sistema público de ensino (no que se refere ao aluno) me faz pensar nisso de vez em quando.

A cada dia sedimento a ideia de que, mais que ensinar conteúdos, o importante é aprender a aprender. Quando você tem base pode extrair conhecimento de quase todo lugar. Lembro-me da minha professora de didática lá da Federal, “Roynolka” (não lembro se escreve assim, ela era húngara), a querida professora Roy. Em uma de suas aulas ela usou um gibi da Turma da Mônica. Um dos alunos questionou: “professora, um gibi de história em quadrinhos numa aula de didática na Federal ?”.

Bom, o fato é que a aula era sobre saber reconhecer a realidade e as dificuldades dos alunos. O gibi em questão era do “Chico Bento”. Na historinha ele era perseguido pela professora porque chegava sempre atrasado e às vezes dormia na aula. Num belo dia, a professora dirigia-se para a escola e passou pela zona rural da cidade. De longe ela viu o Chico Bento trabalhando duro no roçado e entendeu o porquê dele chegar sempre atrasado. Apesar de ser apenas um garoto, trabalhava duro e acordava muito cedo.

A professora Roy, nessa aula com material didático inusitado, mostrou o valor de saber 'aprender a aprender'. Nessa mesma aula relatei um fato ocorrido comigo enquanto assistia ao capítulo de uma novela. Num dado momento, numa mesa de restaurante, formou-se um triângulo amoroso: Edu (Reynaldo Gianecchine), Helena (Vera Ficher) e Miguel (Tony Ramos). A filha de Miguel, vendo a cena, comentou: “Veja só um triângulo amoroso inusitado”. O amigo dela, que estava ao lado, completou: “E é um triângulo escaleno”. Os dois riram e a cena seguiu. “Triângulo escaleno?” fiquei pensando. Ignaro em matemática, fui ao dicionário e aprendi que se tratava de um triângulo com lados diferentes. Fiz a analogia e entendi o comentário visto na novela.

O problema é que grande parte das pessoas que assiste às novelas não tem base para extrair algum conhecimento daquela fonte (exígua, reconheço). Falta saber aprender a aprender. Quem tem estrutura absorve cultura nas mais inusitadas fontes. Sorte que me ensinaram a pescar.

4 de abril de 2010

QUE DIA É HOJE ?

Você já parou para pensar que a contagem do tempo é diferente, dependendo do país em que você esteja? Nós ocidentais usamos o calendário Gregoriano, criado pelo papa Gregório XII em 1582, para substituir o calendário Juliano. Segundo esse calendário, que tem como marco inicial o nascimento de Jesus Cristo, hoje é 06 de fevereiro de 2008. Portanto, faz 2008 anos que Cristo apareceu na terra. O cristianismo é largamente difundido no mundo, por conta disso o calendário Gregoriano é o mais usado. Entretanto, se você estivesse em Israel, que adota o calendário Hebraico (ou Judaico), que é regido pelos movimentos da Lua (calendário lunar) e apresenta onze dias a mais do que o calendário Gregoriano, você estaria em Shevat (janeiro-fevereiro, no calendário Gregoriano) de 5767.

Mas se você, ao invés de judeu ou cristão, fosse natural de um país mulçumano, que adota o calendário Islâmico (ou Hegírico), cujo ano tem onze dias a menos do que o ano gregoriano, você estaria em Sha’aban (fevereiro) de 1429. Ou ainda, se você fosse da China, que adotou oficialmente o calendário gregoriano em 1912, mas a população continua a usar o calendário lunissolar (baseado nos movimentos da lua e do sol), você estaria no ano 4703. Ou seja, no Brasil é século XXI, em Israel é século LVII, no mundo islâmico é século XV e na China, século XLVIII. A contagem do tempo é uma convenção diretamente ligada à cultura do povo (como quase tudo).

Finalizo esse post contando uma história(cruel) verídica envolvendo um antropólogo inglês e uma tribo indígena do xingu. Esse inglês (cuja graça não me recordo, claro) quando era jovem, recém- formado, lá pela década de 1960, veio até o Brasil para realizar um documentário sobre os índios do alto xingu. Ele fez várias horas de gravação, mas o filme nunca foi realizado. Recentemente, reencontrou o material filmado num quarto de quinquilharias da sua casa . Foi então que ele teve uma triste idéia: mostrar o material de quarenta anos atrás para os índios da mesma tribo. Ele veio até o Brasil e, devidamente autorizado pela FUNAI, armou uma tenda no meio da aldeia e fez sua sessão de cinema.

Alguns poucos índios se reconheceram nas imagens, se viram mais jovens, diferentes do estado atual. O antropólogo introduziu na vida daqueles indivíduos, uma convenção que não existia para eles: o tempo. Muitos desses índios foram tomados por uma tristeza profunda e não conseguiram mais se recuperar. Obviamente, não era essa a intenção do pesquisador, mas o episódio deve ter valido como a grande experiência da vida dele, um erro que jamais deve ser repetido. Droga, hoje é quarta-feira de cinzas, amanhã volto a trabalhar. O tempo passa rápido!

Autor: Prof. Edvaldo Cavalcante

Texto originalmente publicado em 06/02/2008 no blog Jornália do Ed

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