Autora: Adriana chaves - Colaboração para a Livraria da Folha
Para o autor de "Mamãe, como eu nasci?", o sexólogo Marcos Ribeiro, a polêmica criada em torno de seu livro na capital pernambucana é um resquício de uma cultura que ainda trata o sexo como tabu. Ele entende que o episódio, no entanto, é uma boa oportunidade para pais, vereadores e outras pessoas abrirem "uma discussão importante em benefício das crianças e jovens, afinal, o bem delas é o que todos nós desejamos".
Na última terça-feira (27), a Secretaria da Educação de Recife determinou o recolhimento da obra nas escolas da rede municipal de ensino. A decisão, que teve o apoio da Câmara de Vereadores, foi tomada devido a reclamações de pais de alunos, que consideraram a publicação "obscena".
"É natural que num país onde o sexo é visto como algo feio, sujo e pecaminoso, em que as músicas de duplo sentido assolam os quatro cantos e o Carnaval é o único período onde é permitida a vivência do erótico, que a falta de conhecimento traga essa polêmica num livro educativo e que trata a sexualidade de forma natural, com seu conteúdo adequado à faixa etária que se destina", disse Ribeiro à *"Livraria da Folha".
Polêmica vem mais de 20 anos depois
O autor ressalta que "Mamãe, como eu nasci?" foi lançado em outubro de 1988, sem nenhum episódio parecido em seus 22 anos de carreira. De acordo com ele, já foi adaptado para o teatro com apresentações no Brasil, Argentina e África, totalizando mais de 150 apresentações. "Esperou chegar à maioridade para essa polêmica."
"O livro, desde sua primeira edição, e lá se vão mais de 20, tem apresentação do nosso maior educador, Paulo Freire, que coincidentemente é pernambucano e que traduz no seu texto a beleza e seriedade de falar desse assunto", afirmou Ribeiro.
"Os aspectos educativos da publicação foram destacados pelo sexólogo. "A página que trata da descoberta do corpo pela criança, se preocupa com a proteção da criança quando diz: 'Ah! Já ia me esquecendo: você não deve deixar que nenhum adulto ou pessoa mais velha toque nem no pênis para os meninos nem a vulva para as meninas'. Essa é uma forma de prevenção e proteção contra um possível abuso sexual. Essa seriedade e compromisso devemos ter quando discutimos o tema com a criança."
"E na sequencia falamos de higiene, da importância de procurar o médico caso tenha um "machucadinho" e por aí vai", disse o autor. Ele enfatizou ainda que se trata de um livro sério e que todos os especialistas consultados atestaram a qualidade da obra."
Segundo Ribeiro, a secretaria, por meio do recolhimento da obra, atendeu democraticamente atendeu aos pais e, com o trabalho de capacitação e orientação que será realizado, vai inseri-lo na realidade e interesse de cada família em discutir o tema, respeitando aqueles que consideram ser este um direito exclusivo da família. "Lembrando que a adoção do livro é apenas mais uma estratégia de abordagem do programa pedagógico em educação sexual já desenvolvido há anos pela equipe da Secretaria de Educação."