Por: Francisco Grijó - No bom filme Educação, da diretora dinamarquesa Lone Scherfig, a personagem feminina central, uma adolescente à frente de sua limitadíssima época, dirige-se à diretora da escola: “Vocês educam, mas esqueceram-se de dizer para quê!” É o ponto-chave da película. A mocinha não questiona a razão de estudar línguas mortas, teoremas ou história. Questiona se há algo além de tudo aquilo que se apresenta, e se o que é estabelecido pela família e pela escola é o resumo do que chama “viver” – também conhecido pelo nome tédio.
Há alguns anos me perguntaram sobre como me sentia como educador. Sou professor de pré-vestibular, o que é bem diferente. Não educo, embora qualquer professor, não importa a série em que atue (do infantil ao pós-doutoramento), tenha a obrigação de apontar alternativas à chatice e à opressão que advêm das idéias pré-estabelecidas, sejam elas trazidas do seio familiar, sejam elas veiculadas nos discursos escolares. Sinto que me repito porque já falei isso, em postagem anterior. Mas nunca é demais.
O trabalho de um professor vai além da informação, e é bom lembrar que ensinar algo a alguém é algo plenamente discutível. Não creio que um professor ensine, mas que estimule, que desperte interesse por um ou outro assunto. O filme não chega a discutir isso explicitamente, mas deixa evidente que o papel da escola na descoberta do mundo é mínimo. A escola limita ao invés de libertar – afirma o roteiro, tão bem escrito por Nick Horby que me despertou a vontade de rever o ótimo Alta Fidelidade, com John Cusack fazendo suas listas.
O próprio título em inglês – An Education – provoca a ideia alternativa quanto à absorção do conhecimento e dos valores que contribuem para a formação individual. É uma possibilidade que deve ser levada em conta e a sério. A compreensão e análise crítica dos mecanismos sociais que criam a realidade são elementos fundamentais que independem dos bancos escolares, embora, claro, se possa obtê-los na vida acadêmica. Eis a questão: educação implica obrigatoriamente escola?
À parte as discussões sérias que o filme impõe – incluindo o desfecho um tanto moralista -, merece menção a belezura Rosamund Pìke, que rouba fácil o filme. Interpreta aquela categoria fascinante de mulher cujo miolo mole torna-a irresistivelmente charmosa. É fútil na medida extrema, proporcional à gostosura que exsuda em cada fala, em cada gesto. Só por ela o filme já valeria, mas há mais. É só buscá-lo nas locadoras ou fazer como eu: ser surpreendido num canal de tevê pago.
Sobre o autor: FRANCISCO GRIJÓ: professor de Literatura Brasileira, escritor e pai (todos em atividade). É nativo da ilha de Vitória, ES (1962).
Autor: DIGA ADEUS A LORNA LOVE, contos, 1987; UM OUTRO PAÍS PARA ALICE, contos, 1989; COM VIVIANE AO LADO, romance, 1995; MULHERES – DIVERSA CALIGRAFIA (com outros autores), contos, 1996; LICANTROPO, contos, 2001; HISTÓRIAS CURTAS PARA MARIANA M, romance, 2009. Em breve: TODAS ELAS AGORA, contos, e AGITE ANTES DE USAR, biografia da banda Mamíferos.
Publicado originalmente no blog: Ipsis Litteris
Postado por Ed Cavalcante
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