Há 172 anos, num dia 21 de junho, nascia Machado de Assis,
escritor brasileiro que, mesmo sendo pouco lido e por muitos
secretamente considerado chato, parece ser uma unanimidade acadêmica.
Não conheço estudioso da literatura que o ignore ou que dele fale mal. É
uma instituição, uma entidade. Se tivesse escrito nas
línguas-padrão inglês ou francês, seria badalado, reconhecido como um
criador absoluto. Não teve rivais no português. Nem Eça, com toda a
sua voluptuosidade linguística, foi páreo. Os franceses Balzac, Flaubert
e Maupassant, assim como os russos Tolstoi e Dostoievski, tudo bem, são
superiores, mas Machado foi um narrador brilhante. E falo isso com a
tranquilidade do antibairrismo.
Louvar Machado e sua literatura é clichê. Já escrevi sobre isso,
e questionei quem ainda o lê. Não é sobre isso que quero falar, e sim
sobre algo que venho discutindo com colegas e estudiosos – inclusive do
próprio autor, gente que tem muito mais conhecimento que eu. A pergunta
que formulo é: seria Machado de Assis leitura adequada a
jovens leitores ou uma leitura prévia de alguns bons autores seria a
necessária ante-sala para a difícil narrativa machadiana? Parto do
princípio de que o próprio Machado de Assis é quem leva
desvantagem ao ser – metonimicamente falando – imposto a adolescentes
de 16, 17 anos como leitura obrigatória. Corre o risco, quase sempre
confirmado, de ser mal compreendido e, daí, ser considerado mau escritor
– ou chato, entediante etc.
Por outro lado, como sonegar ao aluno a importância de sua
fundamental literatura? Ao mesmo tempo, como abordar, com um adolescente
cuja densidade informativa não é das mais sólidas, a profunda – e
muitas vezes travestida de cínico elogio - crítica à classe dirigente
que, de fato, era tão provinciana quanto aqueles a quem ela
achincalhava? Como comprovar ao leitor pouco acostumado à narrativa de
Machado, que, ao conceber mulheres sensuais, voluntariosas e dúbias como
Capitu, Sofia, Virgínia, Flora e Marcela, no fundo ele contrariava
intecionalmente seu passado romântico e nos apresentava a mulher moderna? Aliás, até que ponto se pode discutir com alunos a modernidade – e não a atualidade – de Machado de Assis?
Sempre que me deparo com essas questões, penso que exigir do aluno de
Ensino Médio, por exemplo, que ele leia os difíceis romances
machadianos, a verdadeira injustiça é direcionada ao autor carioca – e
não ao estudante. Claro que um professor competente, e que tenha lido as
obras de Machado de forma criteriosa, pode despertar no aluno o
interesse por suas histórias tão ricas e tão esclarecedoras. Isso talvez
funcione como consolo, e como estímulo a que nós, professores,
continuemos a triste e quase insana (mas necessária) batalha de
apresentar Machado de Assis a quem, por falta de oportunidade ou desleixo, ainda não o conhece. E, desse modo, poder comemorar seus 172 anos de vida.
Fonte: Blog Ipsis Litteris
Autor: Professor Francisco Grijó
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