Blog da Escola de Referência e Educação Jovens e Adultos Amaury de Medeiros

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4 de maio de 2010

INCLUSÃO SOCIAL E VIDA INDEPENDENTE: O PAPEL DA TECNOLOGIA

Por: Marta Gil

"Se para a maioria das pessoas a tecnologia torna a vida mais fácil, para as pessoas com deficiência a tecnologia torna as coisas possíveis." Mary P. Radabaugh.

O que significa ter “vida independente” em uma sociedade produtiva e caracterizada, dentre outros atributos, como a “Sociedade da Informação”?Uma das respostas possíveis a esta pergunta tão abrangente é: levar uma vida com autonomia significa poder fazer escolhas em todas as esferas da vida, desde a roupa que quer vestir, a comida que deseja comer até exercer seu papel na sociedade. Segundo a concepção atual – denominada “modelo social da deficiência”- a incapacidade não está nas pessoas, mas, sim, decorre dos obstáculos existentes nos ambientes físico e humano que as rodeiam. A sociedade pode “deficientizar” mais ou menos uma pessoa, ao promover condições de acessibilidade – ou não.

A vida independente é viabilizada pela prestação de serviços e pela tecnologia assistiva, que pode significar a diferença entre dependência e independência, tão bem sintetizada por Mary P. Radabaugh, na citação inicial.

A tecnologia, no sentido mais amplo do termo, também alcança as pessoas com deficiência, tornando sua vida possível, independente, digna e cidadã, objetivos pelos quais todos lutamos.

Informação

Para que a tão sonhada vida independente seja realidade, um pré-requisito básico é ter acesso à informação, que pode ser definida como o conhecimento que dá forma a uma ação. Portanto, deve ser atualizada, completa e vir de fonte confiável.

Mas, apenas dispor de informações não basta: é preciso que elas circulem, gerando atitudes, estimulando tomadas de decisões e agregando outras informações. É o caráter dinâmico que a caracteriza.

As informações circulam nos mais variados suportes, que cada vez mais se entrelaçam: jornais, rádios, televisão, Internet, redes sociais, celular e outros, quase que “exigindo” de nós uma atualização constante, um constante aprender de novos termos, botões e teclas. “Interatividade” e “conectividade” são palavras “da hora”.

É preciso, portanto, saber produzir, armazenar e onde buscar o conhecimento, que cresce e se modifica a cada instante. Somos “bombardeados” por dados, informações e notícias, incessantemente. Como separar e identificar o que é necessário para nosso consumo? Como administrar de forma eficiente o conhecimento? Este bombardeio informacional exige o aprendizado de outro tipo de leitura, mais seletivo e exigente.

Aprender a administrar esta avalanche de conhecimentos não é uma tarefa fácil, como sabemos. Mas não é impossível.

Conhecimento: como gerenciá-lo?

Uma das chaves consiste em compartilhar, em criar mecanismos para divulgação e para estimular a troca. Aqui entra a Internet, que viabiliza canais de comunicação livres, fluidos e rápidos e sinaliza o fim de uma época, na qual o saber ocupava uma função privilegiada e restrita.

A segunda chave consiste em saber qual é o conhecimento a ser compartilhado. Acreditamos que deva ser priorizado aquele que atende às necessidades do usuário e que o auxilie a entender o mundo que o cerca, a sua realidade específica.

Aprender é algo que extrapola os limites espaciais da sala de aula e os limites temporais da formação educacional; torna-se atividade constante e, acima de tudo, prazerosa e instigante. Não mais fazemos isso em volta de uma fogueira, como antigamente, mas à frente da “telinha”, sozinhos ou em reuniões virtuais ou presenciais, com o suporte da Internet, cada vez mais interativa. Esse processo pressupõe uma profunda mudança nos nossos valores e atitudes.

Internet e TIC

A partir de meados da década de 90 a expansão das Tecnologias de Informação e Comunicação (TIC)1 acontece, acompanhando a popularização da Internet, que extrapola o ambiente acadêmico e se torna um local de circulação ágil de informação e de encontros virtuais.

Porém, a Internet inaugura, também, o conceito de "infoexclusão" ou de exclusão digital, que designa os que, por não terem acesso ao mundo virtual, se tornam "infoexcluídos", com graves repercussões em suas oportunidades de educação, de profissionalização, de cultura e de lazer. A exclusão pode se dar por limitações socioeconômicas, culturais, de faixa etária ou pela condição da deficiência.

Há muitas iniciativas que visam reduzir ou eliminar essas limitações, como desenvolvimento de aplicativos, de softwares e construção de sites seguindo os padrões de acessibilidade digital.

Universalizar acesso pressupõe democratização: é necessário possibilitar que os usuários atuem como Provedores Ativos dos conteúdos que circulam, com responsabilidade e senso de cidadania.

A produção da informação, seu transporte e o acesso a ela são aspectos que precisam ser considerados no desenvolvimento das TIC. A ausência de padrões de acessibilidade em um destes aspectos torna qualquer usuário, tenha ou não deficiência, incapacitado a produzir, divulgar ou absorver informação – condição fundamental para viver dignamente e compreender a sociedade atual, em que a informação constitui um Direito Humano.

É fundamental que a pessoa com deficiência, para exercer plenamente sua cidadania e estar inserida no mundo atual, aprenda a manejar as ferramentas computacionais adequadas à sua condição e possa navegar pela Internet, em ambiente amigável, sem se deparar com obstáculos no mundo virtual. Além disso, ela precisa saber identificar e selecionar as informações que lhe são necessárias em cada situação, assim como qualquer usuário. O cidadão é aquele que sabe optar. E pode fazê-lo porque tem acesso a conhecimentos.

Os direitos à Acessibilidade, à Informação, à Educação e outros estão garantidos pela Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que insere a Deficiência no patamar dos Direitos Humanos2. O Brasil ratificou esse documento com equivalência de emenda constitucional (Decreto legislativo 186/2008), o que significa um enorme avanço no sentido do pleno exercício da cidadania.

1TIC: Todas as tecnologias utilizadas na captação, transformação e disseminação de dados, informações e conhecimentos, voltados para a tomadas de decisões pelos dirigentes de organizações públicas e/ou privadas. O termo é bastante amplo. Um livro pode ser uma tecnologia de armazenagem e transporte de informações. Obviamente, nosso foco aqui são as tecnologias dependentes de redes de dispositivos micro processados .

Sobre a autora

Marta Gil é socióloga, coordenadora executiva do Amankay Instituto de Estudos e Pesquisas, consultora na área da deficiência e colaboradora do site Planeta Educação.

Fonte: Planeta Educação

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