Blog da Escola de Referência e Educação Jovens e Adultos Amaury de Medeiros

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22 de junho de 2011

172 anos do nascimento de Machado de Assis

Há 172 anos, num dia 21 de junho, nascia Machado de Assis, escritor brasileiro que, mesmo sendo pouco lido e por muitos secretamente considerado chato, parece ser uma unanimidade acadêmica. Não conheço estudioso da literatura que o ignore ou que dele fale mal. É uma instituição, uma entidade. Se tivesse escrito nas línguas-padrão inglês ou francês, seria badalado, reconhecido como um criador absoluto. Não teve rivais no português. Nem Eça, com toda a sua voluptuosidade linguística, foi páreo. Os franceses Balzac, Flaubert e Maupassant, assim como os russos Tolstoi e Dostoievski, tudo bem, são superiores, mas Machado foi um narrador brilhante. E falo isso com a tranquilidade do antibairrismo.
Ficheiro:Machado-450.jpg
Louvar Machado e sua literatura é clichê. Já escrevi sobre isso, e questionei quem ainda o lê. Não é sobre isso que quero falar, e sim sobre algo que venho discutindo com colegas e estudiosos – inclusive do próprio autor, gente que tem muito mais conhecimento que eu. A pergunta que formulo é: seria Machado de Assis leitura adequada a jovens leitores ou uma leitura prévia de alguns bons autores seria a necessária ante-sala para a difícil narrativa machadiana? Parto do princípio de que o próprio Machado de Assis é quem leva desvantagem ao ser – metonimicamente falando – imposto a adolescentes de 16, 17 anos como leitura obrigatória. Corre o risco, quase sempre confirmado, de ser mal compreendido e, daí, ser considerado mau escritor – ou chato, entediante etc.

Por outro lado, como sonegar ao aluno a importância de sua fundamental literatura? Ao mesmo tempo, como abordar, com um adolescente cuja densidade informativa não é das mais sólidas, a profunda – e muitas vezes travestida de cínico elogio - crítica à classe dirigente que, de fato, era tão provinciana quanto aqueles a quem ela achincalhava? Como comprovar ao leitor pouco acostumado à narrativa de Machado, que, ao conceber mulheres sensuais, voluntariosas e dúbias como Capitu, Sofia, Virgínia, Flora e Marcela, no fundo ele contrariava intecionalmente seu passado romântico e nos apresentava a mulher moderna? Aliás, até que ponto se pode discutir com alunos a modernidade – e não a atualidade – de Machado de Assis?

Sempre que me deparo com essas questões, penso que exigir do aluno de Ensino Médio, por exemplo, que ele leia os difíceis romances machadianos, a verdadeira injustiça é direcionada ao autor carioca – e não ao estudante. Claro que um professor competente, e que tenha lido as obras de Machado de forma criteriosa, pode despertar no aluno o interesse por suas histórias tão ricas e tão esclarecedoras. Isso talvez funcione como consolo, e como estímulo a que nós, professores, continuemos a triste e quase insana (mas necessária) batalha de apresentar Machado de Assis a quem, por falta de oportunidade ou desleixo, ainda não o conhece. E, desse modo, poder comemorar seus 172 anos de vida.

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